Tuesday, November 02, 2004

Fernando Gonçalves Pereira

Fernando Gonçalves Pereira foi uma das pessoas mais importantes e inteligentes nascidos na Moura da Serra, por isso resolvi prestar uma homenagem a este grande homem a quem a Moura deve bastante. Não tenho muita informação sobre ele, gostaria de saber mais, sei apenas que tem uma filha e pouco mais, se alguém me puder ajudar ficaria agradecido.

Para dar apenas alguns exemplos, foi um dos fundadores da Comissão de Melhoramentos, foi secretário, e depois na primeira junta de freguesia foi o primeiro presidente.

A ele deve-se também alguma informação sobre a terra porque escreveu para a "Comarca de Arganil" alguns textos e que eu decidi colocar alguns online para consulta.

Aqui ficam então os textos e prometo que quando tiver mais informações colocarei-as na página.

As monografias

Monografia de Moura da Serra - I - (Sua Origem)


A origem desta povoação perde-se nos tempos, devendo ser uma das mais antigas da região. Deve ter sido habitada por romanos.
O aparecimento, em 1901, de duzentas moedas de prata do tempo do Império, a cerca de duzentos metros desta localidade, é talvez um indício de que ela remonta a essa época. Um conterrâneo nosso tem em seu poder uma dessas moedas, que tem no verso a efígie dum imperador, rodeada da seguinte inscrição: “ Augustos Divi F.”. Esta última letra é a inicial de Filius, o que significa: “Augusto Filho de Deus”. O reverso ostenta a figura dum touro e a inscrição Imp. X. Como todos os imperadores se intitulam Augustos, não se sabe a qual deles diz respeito a dita efígie. A inscrição do reverso Imp. X, quererá indicar que tal moeda foi cunhada no governo do décimo imperador, ou no décimo ano destes soberanos, Octaviano Casal Augusto.
Também por ocasião da construção do novo cemitério desta povoação, em 1921, e da sua ampliação, em 1942, apareceram no respectivo local várias sepulturas romanas. O mesmo se deu em 1950, quando o antigo templo foi demolido e substituído pelo actual. No adro que circunda o mesmo templo, tanto pelo lado norte como pelo poente, apareceram várias sepulturas do mesmo tipo.
A palavra Moura indica que também aqui viveram mouros. Como a povoação está situada num recanto da serra e estava bastante isolada, pois só há poucos anos teve uma estrada de macadame, pode ter servido de refúgio aos sectários de mafoma durante as lutas que com eles sustentaram os nossos primeiros reis.
Mas nem romanos nem mouros aqui deixaram quaisquer obras de vulto a atestar a sua passagem por esta localidade.
Moura da Serra
FERNANDO G. PEREIRA



Monografia de Moura da Serra – II- (Seus templos)

Capela do Divino Espírito Santos Era muito antiga, não havendo dados precisos sobre a data da sua fundação. Crê-se que ela foi construída no século XIV. Pelo menos a imagem da Santíssima Trindade, a que o povo chama apenas o Divino Espírito Santo, deve ser duma época muito recuada. O altar-mor respectivo, estilo renascença, é certamente mais moderno. O altar de Nossa Senhora da Piedade, assim como a imagem respectiva, datam de meados do século XIX; e o do Sagrado Coração de Jesus foi construído em 1923, sendo desenho da autoria do cónego Manuel Fernandes Nogueira, director do Colégio do Piódão, onde foi também pároco.
A imagem do Sagrado Coração de Jesus, executada em Braga, data de 1951.
A imagem de Nossa Senhora de Fátima foi oferecida por uma devota em 1940.
Primitivamente não tinha sacristia, que deve ter sido construída na segunda metade do século XIX.
Em 1942 foram demolidas e substituídas por outras mais amplas, a capela-mor e a sacristia. Em 1950, foi demolido igualmente e substituído por outro de maiores dimensões o seu corpo. Estas obras foram custeadas pela ajuda de alguns povos da serra e por um sacerdote natural desta povoação de Moura.
Já depois da freguesia criada em 1962 voltou-se a acrescentar o corpo para o lado nascente, assim como a capela-mor, e a sacristia para o lado sul, que foi remodelada. Estas últimas obras, assim como um pequeno altar em granito, foram custeadas por toda a paróquia e orientadas as obras pelo nosso zeloso pároco. Finalmente, em 1968, em obediência às novas leis litúrgicas, foi feito um maior altar em granito, cujas despesas foram custeadas na sua maior parte pelo mesmo sacerdote nosso conterrâneo, monsenhor Pereira de Almeida, e por toda a freguesia, e orientadas na mesma pelo nosso pároco.
De forma que o templo é já inteiramente novo, embora construído por algumas vezes: primeiro, a capela-mor e a sacristia, em 1942, o corpo em 1950, e segunda vez tudo em 1962, finalmente o altar-mor em 1968, sendo hoje uma igreja paroquial. É de salientar que para todas estas obras, que importaram em algumas centenas de milhar de escudos, não houve qualquer comparticipação do Estado.
Desde tempos imemoriais faziam-se na dita capela os baptizados e casamentos das povoações de Moura e Valado, ambas da freguesia de Avô. Os casamentos deixaram de fazer-se por volta do ano de 1880, e os baptizados, em 1893, mas este privilégio foi restabelecido por determinação do Prelado D. António Antunes, em 1943.
Capela de Santa Filomena - Foi construída em 1927, tendo sido a respectiva imagem adquirida anos antes, tendo estado no culto algum tempo, na velha capela do Divino Espírito Santo. O templo foi benzido a 26 de Setembro de 1927. O altar é posterior, datando de 1936.

Moura da Serra
FERNANDO G. PEREIRA



Monografia de Moura da Serra - III
(Seus cemitérios e seus fontanários)

CEMITÉRIOS – Quando foram proibidos os enterramentos nos templos, construiu-se junto à parede do lado sul do antigo templo, um pequeno cemitério para os povos de Moura e Valado.
Como se tornasse insuficiente para a população foi construído do lado norte, outro mais amplo em 1924, em terreno cedido gratuitamente pelo já falecido António Joaquim. Por sua infeliz sorte, foi um seu filho de tenra idade quem o estreou dias depois deste ter sido benzido, a 15 de Outubro do mesmo ano.
O novo cemitério foi novamente ampliado e remodelado por comparticipação do Estado em 1942, mas, devido à falta e encarecimento do ferro que naquela altura se fazia sentir, devido à guerra mundial 1939-1942, o Estado não comparticipou o portão em ferro, ficando com um de madeira. Porém, por verba total da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, em 1948, foi substituído por um de ferro.
Quando o cemitério foi construído, foram plantados dentro dele quatro cedros, um em cada um dos quatro ângulos do respectivo muro, mas, quando da sua ampliação, foram arrancados dois, por estes terem ficado no meio, em virtude do cemitério ter sido ampliado para os lados norte e poente. Os dois últimos que ficaram, em Outubro de 1962, quando a actual igreja se encontrava novamente em obras, a nossa primeira Junta de Freguesia, vendo que prejudicavam com a sua sombra a igreja, deliberou proceder ao seu corte. O produto da venda de um foi para o cofre da Junta, e o do outro, para ajuda das obras respectivas da igreja.
A trasladação das ossadas, do velho cemitério para o novo, teve lugar a 25 de Fevereiro de 1939, tendo havido um ofício solene de defuntos e sermão no mesmo cemitério novo.
FONTENÁRIOS – Foi esta povoação em longínqua data, abastecida numa nascente imunda, que se encontra dentro do ribeiro que atravessa a povoação no sítio que se chama Seixinhos.
Em 1878, a expensas da Câmara de Oliveira do Hospital, foi feia uma fonte no meio duma propriedade um tanto afastada da povoação, no local que hoje se chama Fonte Velha. Devido à sua má construção, no Verão era de chafurdo, sendo a água misturada com a de um tanque anexo que servia para lavar roupa e outras coisas, o que originou, por algumas vezes, certas epidemias.
Em 1930, um conterrâneo de influência, que se chamava António Nunes Lisboa, solicitou junto da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, a resolução de tão magno problema, e no ano seguinte aquela edilidade de uma verba para ser feita uma mina para esse fim, mina essa que não deu resultado.
Em 1933, uma comissão composta pelos já falecidos António Francisco Lisboa e Eduardo da Conceição, novamente solicitaram ao mesmo município a sua resolução, e em Outubro do mesmo ano à custa do Município foi feito um projecto para esse fim, que depois foi dirigido à Direcção dos Melhoramentos Rurais, sendo reprovado.
Em 1937, foi constituída a Comissão de Melhoramentos de Moura da Serra, pelos seguintes membros: António Quaresma, presidente; Fernando Gonçalves Pereira, secretário; e José Bento, tesoureiro. Nesse mesmo dia, que foi a 3 de Janeiro, deliberou-se, que entre outros, resolver este assunto. Pois no mesmo ano, a Câmara de Oliveira do Hospital mandou remodelar e fontanário, obras essas que foram dirigidas pelo saudoso António Joaquim Freire, que embora não fizesse parte da dita Comissão, era então cabo de ordens e pessoa em quem a Câmara depositava confiança. Ficou desde então de água permanente e muito deliciosa e isolada de quaisquer imundícies.
Finalmente, como a população se tornasse insatisfeita por o fontanário se encontrar afastado duma parte da povoação, em 1939, a Comissão de Melhoramentos, pela sua delegação de Lisboa, que era representada pelos conterrâneos António da Costa Nascimento e José Luís Pereira, mandou elaborar um projecto para serem feitos um chafariz, um bebedouro e um lavadouro, obras essas que foram comparticipadas pelo Fundo dos Melhoramentos Rurais em 1940 e construídas no ano seguinte, tendo sido cedida graciosamente a água para este fim pelos seguintes conterrâneos: herdeiros de José Pereira Gonçalves, Eduardo dos Santos, Maria da Encarnação, José Bento, Arminda de Jesus e Ernesto Pereira e ainda por Maria da Piedade Pereira Gonçalves e seus filhos, Maria Prazeres e Fernando Gonçalves. Estes dois últimos deram também o terreno onde tudo foi construído.

Moura da Serra, Março de 1970
FERNANDO G. PEREIRA



Monografia de Moura da Serra - IV
(Sua escola primária)


A escola foi criada em 1919, sendo inaugurada a 13 de Outubro do mesmo ano. Não tinha então casa própria ficando a funcionar num edifício particular, cedido graciosamente até se construir um novo edifício, pela família Monsenhor Pereira de Almeida, à Cancelina.
Em 1926, por comparticipação do Estado e com a ajuda de alguns povos da serra, foi construído um novo edifício em terreno cedido graciosamente pelos já falecidos António Nunes Lisboa e Maria Piedade Pereira Gonçalves, sendo inaugurado em Janeiro de 1927, onde ficou a funcionar a escola.
Em 1942 foi extinta e substituída por um posto escolar. Tinha tido no ano anterior a frequência de 36 alunos, mas como alguns alunos eram estranhos ao núcleo escolar, que então era só constituído pelas povoações de Moura e Valado, o ministro não atendeu à frequência, mas apenas ao recenseamento, e extinguiu a escola.
Esta porém foi restaurada em 1948, começando a funcionar como tal na última época do ano lectivo 1947-1948.
Nos anos lectivos de 1952-1953 e 1953-1954, aumentou consideravelmente a frequência e foi simultaneamente criado um posto escolar, que funcionou a par da escola,
Como em 1956 foram transferidos para outro núcleos os alunos de Casarias e de Mourísia, a nossa escolar voltou a ser extinta, ficando um só posto que durou até meados de Novembro de 1969, passando novamente a oficial, tendo estado desprovida até fins de Janeiro último. Dessa data em diante, começou a funcionar uma comissão com a agente de ensino da Cerdeira.
Como o antigo edifício já havia algum tempo que apresentava um aspecto muito desagradável, e estando em ruína a nossa primeira Junta de Freguesia, em princípios de Setembro de 1962, oficiou à Câmara Municipal de Arganil, pedindo a sua restauração. E foi então que, a expensas do Estado, em 1968, foi construído um moderno edifício num terreno cedido gratuitamente por um conterrâneo desta povoação, um pouco a norte do antigo edifício e da capela de Santa Filomena.
Foi inaugurado a 11 de Agosto do mesmo ano, com a presença de muitas altas individualidades, e a que presidiu o Subsecretário de Estado das Obras Públicas, Eng. Rui Alves da Silva Sanches, actualmente Ministro das Obras Públicas e Comunicações, sendo vibrantemente ovacionado com entusiásticos vivas e palmas, tendo deixado as mais gratas recordações.

Moura da Serra
FERNANDO G. PEREIRA



Monografia de Moura da Serra - V
(Sua rua principal e outros melhoramentos)


SUA RUA PRINCIPAL - Foi em 1878 que a expensas da Câmara De Oliveira do Hospital que ela foi calcetada a seixos, ficando por muito anos uma das melhores ruas da região, de que os mourenses se sentiam orgulhosos.
Como a vida se modernizasse e ainda mais os veículos motorizados não poderem prosseguir desde o término da estrada, no Largo das Almas, no dia 1 de Setembro de 1957, dia da festa do Sagrado Coração de Jesus, a Comissão de Melhoramentos reuniu como todos os seus corpos directivos e a quase totalidade da população, deliberando-se fazer o seu alargamento até à Capela do Divino Espírito Santo.
No ano seguinte, pediu-se à Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, não só a autorização como também o auxílio financeiro. Aquela edilidade, embora autorizasse, não contribuiu com qualquer subsídio, tendo a Comissão de suportar todas as despesas.
Os trabalhos iniciaram-se na segunda quinzena de Outubro de 1958 e terminaram em fins de Abril do ano seguinte, e neles se gastaram 55.000$00. Como uma transversal marginal do ribeiro que atravessa a população do sítio que se chama Barroco, se tornasse desagradável com as imundícies que ali de depositavam, em Março de 1964 a Comissão de Melhoramentos oficiou à nossa Junta de freguesia, pedindo a autorização e auxilio. Esta oficiou à Direcção Hidráulica do Mondego, pedindo autorização para a sua cobertura em betão armado, numa extensão de 30 metros de comprimento, sendo-lhe concedida licença graciosa a 26 de Março de 1965. A obra foi feita em Julho daquele ano, em que a Comissão despendeu 12.000$00, tornando-se agora aquele local mais atraente.
TELEFONE PÚBLICO – Foi pela Comissão de Melhoramentos requerido em 1953 e inaugurado a 29 de Abril de 1954.
RELÓGIO PÚBLICO – Foi construído em Almada, na Boa Construtora, de que era seu gerente o saudoso Manuel Francisco Coisinha, sendo inaugurado no mesmo dia da inauguração da freguesia religiosa, a 22 de Maio de 1961. Tanto o relógio como um grande sino foram oferecidos pela Comissão de Melhoramentos, que nisto despendeu 25.000$00.
SUA ELECTRIFICAÇÃO – Foi pela Comissão de Melhoramentos requerida à Hidro-Electrica de Arganil, em Fevereiro de 1965, tendo a Comissão contribuído com 57.256$60 e sendo inaugurada a 11 de Agosto de 1968.
RUA DA ESCOLA – Foi principiado o seu alargamento a 29 de Julho de 1968 e concluído assim como o seu embelezamento, em fins de Abril do ano seguinte. Esta obra foi feita pela actual Junta de Freguesia, com o auxílio do Plano de Ajuda Rural.

Moura da Serra, Abril de 1970
FERNANDO G. PEREIRA



Monografia de Moura da Serra – VI
(Seu caminho municipal e estrada carreteira a Casarias)


O CAMINHO MUNICIPAL – Quando em 1937 se fundou a Comissão de Melhoramentos, foi logo resolvido arranjar-se fundos para se mandar elaborar o seu projecto, e todos os presentes se subscreveram, tendo se obtido desde logo a importância de 1.003$00, e dias depois foi recebida dos seus representantes de Lisboa a importância de 1.000$00.
Em fins de Junho do mesmo ano, foi feito o serviço de campo para o respectivo projecto, que foi concluído em fins de Novembro seguinte, e imediatamente enviado à 3ª zona dos Melhoramentos Rurais, em Coimbra mas em nome da Comissão de Melhoramentos do Monte Frio, que devido a isso teve vários embaraços, e por tal motivo a primeira fase só foi comparticipada em meados de Setembro de 1939, em nome daquela comissão.
Em fins do mesmo mês, o presidente daquela Comissão assinou a desistência do respectivo processo, e a 6 de Janeiro de 1940, foi publicada no “Diário do Governo” a transferência da comparticipação daquela Comissão para a de Moura da Serra.
Os trabalhos tiveram início a 4 de Março e terminaram a 17 de Outubro do mesmo ano. A segunda fase foi comparticipada em Fevereiro de 1941, dando-se início aos trabalhos a 4 de Abril e terminando a 2 de Dezembro do mesmo ano.
Depois, houve um grande interregno, notando-se grande desânimo na população, ao notar-se a sua danificação e sem esperanças de ser empedrado.
Foi então que o presidente da nossa primeira Junta de freguesia, a 6 de Setembro de 1963, se deslocou a Coimbra, a fim de se avistar sobre o assunto com o Sr. Director dos Serviços de Urbanização, do qual trouxe boas esperanças. E poucos dias depois oficiou à Câmara Municipal de Arganil solicitando a sua inclusão para o próximo Plano.
Num curto espaço de tempo foi informado de que ia ser incluído no plano de 1965, e de facto foi comparticipado em Junho do dito ano.
Dois meses depois, começou-se a transportar e a partir a brita, tendo terminado o empedramento a 14 de Junho do ano seguinte. Para fazer face às despesas, dependeu a nossa Comissão a quantia de 28.850$00.
Espera-se agora que num futuro próximo seja alcatroada.

ESTRADA CARRETEIRA A CASARIAS – As duas povoações vizinhas da Moura e Casarias, desde sempre de boas relações, não tinham estrada que as ligasse por onde pudessem rodar carros de tracção animal, o que por vezes causava consideráveis transtornos.
Em 1920, por verba da Câmara de Oliveira do Hospital e, com ajuda das duas povoações, foi aberta uma estrada carreteira desde a Barroquinha até ao Cabeceiro, pois até àqueles locais já existiam caminhos para dar acesso às propriedades.
Esta estrada ficou primorosa. Dizia-se até que se estivesse ligada a uma macadamizada, por ela podiam transitar alguns veículos motorizados.
O tempo foi decorrendo sem que tivesse uma assídua reparação, tendo tido a última e leve reparação em 1941. Em Janeiro de 1962, por incitamento do nosso pároco, foi reparada em comum pelas duas povoações entre a capela de Santa Filomena até à Barroquinha, e desde este último ponto em 1963 foi reparada até a Casarias, obra subsidiada pelo Plano de Ajuda Rural, já por intermédio da nossa primeira Junta, e através da mesma em 1965 foi feito um aqueduto no Soito Bichoso.
Devido aos últimos temporais, está porém, de novo a carecer de grande reparação.

Moura da Serra, Abril de 1970
FERNANDO G. PEREIRA



Monografia de Moura da Serra - VII
(Criação da freguesia religiosa e civil)


Atendendo à grande distância (12 quilómetros), a que se encontra esta povoação da vila de Avô, sede da sua antiga freguesia, e tendo-se em vista as distâncias que separam igualmente das sua igrejas matrizes as outras povoações, era natural que se pensasse desde longa data em se constituir uma paróquia serrana com sede em Moura da Serra, centro topográfico da região, a qual abrangesse as outras sete povoações que constituem a antiga capelania. Segundo uma tradição oral, por mais de uma vez chegaram os povos serranos a fazer esse pedido junto das instâncias competentes: Mas como os habitantes das sedes de freguesia a que pertenciam se impusessem, e como fossem de maior peso na balança política, fracassava sempre esta tentativa.
No dia 1 de Janeiro de 1931, o filho desta terra, então cónego Pereira de Almeida, anunciou à estação da missa que já tinha elaborado o texto duma representação que ia ser dirigida ao Prelado da Diocese de Coimbra, pedindo a criação da paróquia religiosa, e nomeou logo uma comissão para colher as assinaturas dos chefes de família das diferentes povoações. Aderiram desde logo a esse movimento, na quase totalidade dos seus habitantes, os povos de Moura e Valado, da freguesia de Avô; Mourísia e Casarias, da freguesia de Pomares; Relva Velha, da freguesia de Benfeita e Parrozelos, da freguesia de Teixeira. O Sobral Gordo não quis desligar-se da sua freguesia – Pomares – sendo por isso posto de parte. O Monte Frio dividiu-se no começo e apenas assinaram a representação 24 chefes de família. Por tal motivo, a representação só pôde se entregue ao Prelado de Coimbra, D. António Antunes, em fins de Setembro de 1939.
O dito Prelado, que prometera ao assumir o governo do Bispado em 1936, criar desde logo a freguesia, se lhe fosse entregue sem demora a representação, respondeu que, em virtude de lhe terem falecido vários sacerdotes e se terem ordenado muito poucos, se via forçado a adiar o cumprimento da sua promessa até que houvesse mais clero.
Em 27 de Setembro de 1945, visitou o mesmo Bispo esta região, falando ao povo que se juntou em grande massa na capela de Moura da Serra. Ratificou ali a sua promessa, mas declarou não poder ainda cumpri-la por falta de clero. Pernoitou aqui e na manhã seguinte celebrou a missa administrou o Crisma, retirando-se em seguida para a freguesia da Benfeita, manifestando antes da partida as boas impressões que levava destes povos, que o acompanharam em grande massa até à saída do lugar.
Não obstante a sua boa vontade este Prelado faleceu em 1948 sem ter podido satisfazer a grande aspiração da gente da serra. O seu sucessor, D. Ernesto Sena de Oliveira, que tomou posse da diocese a 2 de Fevereiro de 1949, prometeu atender oportunamente o pedido dos referidos povos, mas alegou ainda não o fazer imediatamente devido à falta de clero. Em Dezembro de 1954 disse que criaria a freguesia religiosa logo que fosse criada a civil, que os interessados deviam requerer ao Governo.
(Continua)

Moura da Serra, Abril de 1970
FERNANDO G. PEREIRA



Monografia de Moura da Serra - VIII
(Criação da freguesia)


A REPRESENTAÇÃO AO MINISTRO DO INTERIOR - A representação foi assinada pela quase totalidade dos chefes de família das seis povoações antes citadas: Moura, Valado, Casarias, Mourisia, Relva Velha e Parrozelos, pondo-se de parte o Monte Frio.
Como as seis povoações pertenciam a quatro freguesias, a dois concelhos e a duas províncias, houve grandes contrariedades a vencer. Apenas informaram favoravelmente a Câmara Municipal de Arganil e a Junta de Província da Beira Litoral, com sede em Coimbra. E o então Ministro do Interior que à vista do mapa da região também concordara com a razão de ser da nova freguesia, acabou por ser indeferido o pedido, depois da representação ter dado entrada no Ministério e perante as informações prestadas.

COMO CORREU O PROCESSO E SEUS DETALHES –

1.º - Os chefes de família de Moura, Mourisia, Parrozelos e Relva Velha reuniram-se no dia 29 de Junho de 1955, no local denominado por Formarigo para darem as suas assinaturas que foram ali reconhecidas dentro do limite de Relva Velha, por um ajudante do notário vindo de Arganil. A multidão, que era enorme, dava a impressão duma feira ou arraial, até pelo seu entusiasmo e alegria.
Foi um verdadeiro plebiscito. Daí deslocou-se o mesmo funcionário ao lugar de Casarias, onde assinaram os chefes de família de lá e do Valado, tendo terminado tudo já alta tarde.

2.º - Os contrários à criação da nova freguesia, fizeram então larga propaganda contra essa ideia, oralmente e por meio da imprensa, nomeadamente de Arganil.

3.º - O então Ministro da Defesa Nacional, coronel Santos Costa, homem recto, de um só rosto e de uma só fé, não obstante ser um grande amigo do concelho de Oliveira do Hospital, que ia perder estes dois povos, Moura e Valado, defendeu a pretensão publicamente em Avô, no dia 11 de Setembro do mesmo ano, aconselhando o então vice-presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, Dr. João Afonso Ferreira Dinis, e vereadores, que não contrariassem esta pretensão porque era de todo ponto justa.

A injustiça consumou-se. A freguesia civil não foi criada, com pesar de toda a gente de bem, mesmo estranha ao assunto.
O Prelado de Coimbra, a quem o facto surpreendeu, prometeu remediar o caso da sua parte, criando a freguesia religiosa, não obstante a recusa civil.
(Continua)

Moura da Serra
FERNANDO G. PEREIRA



Monografia de Moura da Serra - IX
(Criação da freguesia)


NOSSA SENHORA DE FÁTIMA, PEREGRINA, EM MOURA DA SERRA – Nossa Senhora de Fátima que andava em peregrinação por todas as sedes de freguesia da diocese de Coimbra, veio excepcionalmente e por espontânea concessão do Exmo. Prelado, à capela de Moura da Serra, onde esteve à veneração dos fiéis durante a semana da Páscoa de 1959. Deu aqui entrada em 30 de Março (segunda-feira da Páscoa), e saiu em Domingo da Pascoela (5 de Abril). Foi uma semana de bênçãos para os povos da serra. Decorreu com grande devoção e concorrência de fiéis uma fervorosa missão pregada por um religioso da Congregação do Coração de Maria. Pode bem dizer-se que foi uma desobriga geral, pois foram poucas as pessoas que não se confessaram e comungaram.
No Domingo de Pascoela, veio de Coimbra o Sr. Bispo Auxiliar, D. Manuel de Jesus Pereira, que celebrou a missa, deu a comunhão geral a avultado número de pessoas de ambos os sexos e administrou depois o Crisma a mais de 200 pessoas que para isso estavam devidamente preparadas.
Na tarde desse mesmo dia, saiu Nossa Senhora para a freguesia de Nogueira do Cravo, sendo acompanhada até ao Largo das Almas, por uma numerosa multidão que se despediu, com lágrimas, orações e cânticos, da bondosa mão do Céu.
Com este facto, que sobreveio inesperadamente, uma nova era se abriu para as aspirações religiosas dos povos da serra. Pode dizer-se que Nossa Senhora de Fátima nunca mais os perdeu de vista.
O Sr. Bispo Auxiliar, que além dos sentimentos destes, ficou conhecendo a topografia da região, foi informar o venerando Prelado da grande necessidade da Freguesia.
(Continua)

Moura da Serra
FERNANDO G. PEREIRA



Monografia de Moura da Serra - X
(Criação da freguesia)

A paróquia religiosa – Quando tudo parecia perdido e o desalento se tinha apoderado de muita gente, reinando já na serra uma certa desunião, soou, finalmente, a hora do resgate.
No dia 5 de Abril de 1961, quando se completavam precisamente, dois anos após a saída da Virgem Peregrina, recebeu monsenhor Pereira de Almeida, da parte do Prelado de Coimbra, a grata noticia de que, depois de ter ouvido a parecer favorável do Cabido, criara, em 3 do referido mês, segunda-feira de Páscoa, a paróquia religiosa de Moura da Serra.
A inauguração da mesma só pôde fazer-se em 22 de Maio seguinte, segunda-feira do Espírito Santo.
Esta festa memorável ficou escrita em letras de ouro nos fastos religiosos desta região serrana.
Ás 8 horas desse dia, houve missa rezada, com comunhão geral. Às 10 horas, chegou à entrada da povoação, o venerando bispo auxiliar, que foi saudado pelo clero e povo e nomeadamente pelas criancinhas. Seguiu depois debaixo do pálio até à igreja, acompanhado por numerosos capitulares das Sés de Coimbra e da Guarda, e por outros sacerdotes, por numerosa multidão de povo e pela Filarmónica do Barril de Alva. Ao entrar na igreja, foi saudado, em nome dos povos serranos, por monsenhor Pereira de Almeida, que lhe pediu apresentasse ao venerando Prelado de Coimbra as homenagens e agradecimentos da boa gente da serra, por um tão grande benefício, o maior de todos e há tantos anos esperado.
Foi lido em seguida o decreto da criação da paróquia e a carta de nomeação do seu pároco, Sr. Padre António Lopes da Conceição, que também paroquiava já as freguesias de Teixeira e Cepos.
S. Ex.ª rev. Falou então ao povo, congratulando-se pela realização da velha e legítima aspiração e dando, a propósito, várias e oportunas instruções.
Em seguida crismou algumas pessoas, que para isso estavam devidamente preparadas.
Na sacristia foi então descerrada uma fotografia do Sr. Arcebispo-Bispo Conde de Coimbra, D. Ernesto Sena de Oliveira, fundador da paróquia, o que provocou da parte de todos os assistentes grandes aclamações e manifestações de sentido júbilo.
Ao meio-dia, começou a missa solene, celebrada pelo novo pároco que foi acolitado pelo arcipreste Sr. Padre Januário Lourenço dos Santos e pároco cessante Sr. Padre Alberto Sanches Pinto.
Terminada a missa, expôs-se o Santíssimo Sacramento e cantou-se o em acção de graças.
Depois, saiu uma solene procissão eucarística, em que o Sr. Bispo levava a custódia debaixo do palio, sendo acompanhado por todo o clero e numerosa multidão de fiéis.
A bênção do Santíssimo Sacramento rematou esta inolvidável solenidade, que foi o começo da vida paroquial da nova freguesia de Moura da Serra.
De tarde, como em outro capítulo já se disse, foram inaugurados dois melhoramentos de suma importância, que foram eles: um relógio público, e o alargamento e prolongamento da rua principal.
Estes dois últimos melhoramentos, conjuntamente como os que já foram mencionados, transformaram por completo a fisionomia desta antiga povoação, que duma velha e escura aldeia se converteu numa terra moderna de pitoresco e risonho aspecto.”
(Continua)

Moura da Serra
FERNANDO G. PEREIRA



Monografia de Moura da Serra - XI
(Criação da freguesia)


A FREGUESIA CIVIL – Soou, finalmente a hora da justiça.
Como atrás fica dito, a serra tinha desde 22 de Maio de 1961, a sua freguesia religiosa, o que lhe permitiu fazer grandes progressos espirituais, tanto mais que o seu primeiro pároco, Sr. Padre António Lopes da Conceição, transferido da Teixeira para Moura da Serra, se dedicou desde logo a instruir, com grande zelo, crianças e adultos, e a colaborar condignamente em todos os actos paroquiais obrigatórios e todas as devoções do culto católico.
Mas a falta de autonomia civil mantinha estes povos numa situação muito difícil, sobretudo porque as quatro povoações pertencentes ao concelho de Arganil (Mourisia, Casarias, Relva Velha e Parrozelos) não podiam enterrar os seus mortos na sua nova paróquia, por estar situada em concelho diferente (Oliveira do Hospital) e tinham de levá-los para os seus antigos cemitérios, a 6, 7 e mais quilómetros de distância. Impunha-se portanto a criação da freguesia civil.
Era então Ministro do Interior o Dr. Alfredo Rodrigues dos Santos Júnior, antigo médico em Côja e posteriormente presidente da Câmara Municipal de Gouveia e Governador Civil da Guarda. Conhecendo a região serrana a que nos referimos, por ter vindo aqui diversas vezes no exercício da sua missão clínica durante a sua estadia em Côja, foi o homem providencial para resolver a triste situação da boa gente da serra.
No dia 7 de Janeiro de 1962, doze chefes de família da região (dois de cada uma das seis povoações) requereram superiormente a revisão do processo de criação da freguesia civil que em 1956 fora indeferido e arquivado no Ministério do Interior.
Cheio de boa vontade e espírito de justiça, o Ministro ordenou que o dito processo baixasse ao Governador Civil de Coimbra, cujo Governador abundava nas suas ideias de resolver favoravelmente este problema angustiante da pobre gente da serra.
A Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, que em 1955 informara desfavoravelmente, foi convencida da sem-razão da sua atitude e retirou o seu veto, porque até a própria Junta de Freguesia de Avô mudou de opinião, atendendo a que a serra já estava religiosamente desligada daquela antiga vila.
A informação da Câmara Municipal de Arganil, que em 1955 fora absolutamente favorável, mantinha-se apensa ao processo e não carecia de ser reformada.
Favorável foi também a da Junta Distrital de Coimbra, assim como a do Governador Civil, Eng. Horácio de Moura, e do mesmo modo, do director Geral da Administração Política e Civil do Ministério do Interior, Dr. Pires de Lima.
Todos estes elementos habilitaram o referido Ministro do Interior a dar um despacho favorável.
No dia 16 de Junho do referido ano de 1962, s. Ex.ª o Ministro do Interior mandou lavrar e assinou o Decreto-Lei 44 453 que criou a freguesia de Moura da Serra, o qual, assinado também pelo presidente e restantes membros do Governo, foi publicado no a 6 de Julho seguinte.
Nesse mesmo dia chegou a fausta noticia a Moura da Serra e causou enorme satisfação aos seus habitantes, que para expandir a sua maior alegria fizeram subir ao ar enorme quantidade de foguetes e morteiros, pondo em admiração os povos vizinhos e estranhos ao assunto, e não era para menos.
Em harmonia com esse Decreto procedeu-se aqui, em 5 de Agosto imediato, à eleição da primeira Junta de Freguesia, tendo sido eleitos os seguintes indivíduos: Fernando Gonçalves Pereira - presidente; José Augusto Pedro Pimenta - secretário; e António Gonçalves Matias - tesoureiro.

Moura da Serra
FERNANDO G. PEREIRA